quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Cinema Cinema de quinta: Joel Caetano

Segundo Cinema de quinta e  eu tive o privilégio de conversar com Joel Caetano, seus trabalhos servem de inspiração pra mim.


Quem é Joel Caetano? Sou um cara que gosta de boas histórias para ver, ouvir e contar.

Porque cinema? Quando era criança me fascinava muito o mundo ficcional, sempre gostei de ouvir histórias. Primeiro as de meu avó, que contava seus causos cheios de magia e lendas regionais (ele viveu no interior de Pernambuco), depois, por meios dos desenhos animados, filmes e da leitura.

Por começar a ler quadrinhos muito cedo, peguei um gosto enorme por esse tipo de narrativa e comecei desenhar. Passei a minha infância inteira criando meus próprios mundos e personagens a ponto de passar as aulas inteiras desenhando nas bordas dos cadernos (sempre era advertido pelos professores por isso, mas nunca me atrapalhou nas notas). Cheguei a fazer minhas próprias histórias em quadrinhos, mas nunca levei isso muito adiante.
Na adolescência, comecei a curtir música. Aprendi a tocar um pouco de violão e comecei a escrever minhas próprias músicas, que eram na sua maioria, bem próximas de histórias de romances, revoluções e questionamentos internos. Nunca ninguém ouviu esse material além de mim, confesso que não era nada excepcional, mas acho que essas músicas cumpriram a minha primeira necessidade de escrever, sendo um ótimo exercício nesse sentido. Mais tarde, quando fui cursar uma faculdade, estava certo de fazer artes plásticas, mas quando vi a grade de Rádio e TV me encantei. Era o meio perfeito e mais completo para contar minhas histórias, pois unia a imagem, som e o ritmo da música e da edição em uma coisa só, um pacote perfeito. Para ajudar, onde estudei, tive contato com muitos professores da área de cinema, daí para começar a fazer meus curtas, mesmo antes mesmo deles pedirem isso na grade curricular foi um pulo. Outro fator que ajudou bastante foi a popularização das câmera digitais. Com o barateamento desses equipamentos, fazer cinema ficou acessível a todos. O que manda hoje não são os equipamentos e sim a sua habilidade de usá-los em prol de sua história.
 Making of - Encosto

 Encosto

Inspirações para os seus filmes?  Me inspiro muito no cotidiano e de como estou me sentindo no momento. Isso pode ser algo mais profundo ou uma inspiração simples, como uma lembrança.
Usando como exemplo meu ultimo curta JUDAS, a inspiração veio de uma lembrança de infância. Quando criança não costumava participar do ritual de malhação do JUDAS, não era nada proibido, era uma questão de costume mesmo. Um certo dia, não me lembro porque, decidi fazer meu próprio boneco, mas ele ficou tão bem feito que tive dó de entregá-lo para que os moleques na rua pudessem malhá-lo. Não me lembro o que aconteceu com o boneco depois, mas essa é uma daquelas história de criança que ficam guardadas na memória até que voltou recentemente no melhor lugar do mundo para se ter idéias para roteiros, na mesa do bar. Estava conversando com uns conhecidos e essa lembrança veio a tona. É claro que todos riram de como eu era inocente quando criança, mas todos também chegaram a conclusão que daria uma boa história para um curta. Daí para sentar e escrever o roteiro foi muito rápido, pois eu já tinha a idéia principal muito clara.


Seu gato já te induziu a fazer coisas estranhas? De onde saiu este roteiro? O roteiro do

GATO também tem uma história bem singular. Eu trabalhava meio período como editor em uma produtora e a tarde, ficava sozinho em casa trabalhando em meus projetos pessoais. Sozinho não, com a Cindy Lauper, minha gata de estimação que foi resgatada da rua por minha esposa, Mariana Zani, depois de ser atropelada no dia dos mortos (só essa história já daria um roteiro).
Mesmo se recuperando de seu acidente, a Cindy sempre foi um animal muito expressivo e estranho (talvez o fato dela ter uma pata a menos ajude a criar essa sensação em minha mente) e quando eu estava trabalhando, ela costumava parar na minha frente e ficar me olhando, como se quisesse falar algo. Eu ficava hipnotizado com aquilo e comecei a imaginar como seria se ela pudesse realmente falar.
O que ela diria sobre meu comportamento? Como eu me portaria diante dela? Sobre o quê iríamos conversar? Coisa de maluco, eu confesso. No final, percebi que ela só queria que eu colocasse mais ração em seu pote de comida. De qualquer forma, toda essa situação me deu a idéia inicial do curta. Quando comecei a escrever, decidi que o GATO era uma entidade antiga e mística (como eram vistos os felinos no antigo Egito), e quando ele falava com o homem teria uma forma humanóide, meio gato meio homem. Essa característica fantástica, quase loucura e sonho, foi que trouxe uma atmosfera interessante e lúdica para um filme, que poderia ser somente de matança. Luiz Carlos Batista, o ator que interpreta o GATO se saiu tão bem por trás da máscara que acabamos torcendo pela criatura, mesmo ela tendo uma personalidade um tanto quanto controversa. Acho que nos identificamos com o personagem, pois os gatos são animais de personalidades muito distintas, assim como os seres humanos.

 O gato

Gatos, exorcismos, assassinatos, Seus vizinhos sabem o que vc faz dentro do seu apto? Acho que sabem em parte, mas tentamos ser discretos e respeitar os horários e o espaço de todos. Acredito que, apesar do ofício, somos muito tranquilos e discretos. Deve gerar uma curiosidade, mas nada mais que isso.


Tem alguma história engraçada ou curiosa que tenha se passado durante as produções?  Posso contar algumas curiosidades: Usamos uma escada como tripé. Quando começamos a RZP Filmes, a 15 anos atrás, tudo que tínhamos era uma luz de fachada de prédio que colocávamos em cima de uma escada e uma câmera Hi-8 que já era ultrapassada na época. Com esse equipamento fizemos o curta Afrodite que foi exibido em festivais universitários. Chegamos a reciclar o sangue que usamos na cena do banheiro do filme GATO. Era noite, não tinhamos mais onde comprar os ingredientes e a cena tinha que ser filmada naquele dia. Assim que eu gritava corta, a Mariana pegava o sangue do chão com as mãos e colocava em um balde para começarmos a filmar de novo. Transformei meu escritório em um terreiro para filmar a cena do ritual de ENCOSTO. Cobri as paredes com tecido preto, forrei o chão com plástico e derramei terra de jardinagem em cima, comprei velas e uma galinha de borracha que cobri com penas pretas de um boá que comprei na 25 de março e fiz a cena. Quando conto isso ninguém acredita. Ah, a cachaça era de verdade.

Já transformou em roteiro algo que tenha acontecido com vc?  Com certeza o JUDAS, pois a idéia do filme veio de um fato da minha infância. O que criei a mais no filme foi a parte fantástica e o fato do menino ter uma infância muito pobre. Não posso escrever muito sobre o enredo para não entregar a história, mas nunca passei por maldades que o personagem sofre no filme, isso foi algo que criei para tornar a narrativa mais interessante.
 Trailer: Judas

Fale um pouco sobre o sucesso que está sendo o filme Judas, vc imaginava isso?  Tem sido incrível. JUDAS foi lançado este ano e já foi exibido em 50 eventos, entre festivais, mostras e cineclubes. O filme foi exibido em diversos países além do Brasil. Já passou na Itália, Canadá, México, Uruguai,Paraguai, Espanha, Paris, Colômbia, Inglaterra e EUA, onde foi premiado como melhor curta Estrangeiro no HorrorQuest em Atlanta. O filme também ganhou prêmios de Melhor Curta no juri popular no Mondo Estronho em Curitiba PA, Melhor Montagem no Festicini em Sumaré SP e Menção Especial (Segundo mais votado pelo público) no Guará Cine Video em Guarapari ES, todos no Brasil. O mais interessante e que JUDAS vem sendo selecionado em festivais importantes que não são temáticos ou de gênero, isso é um precedente importante para mim como cineasta, pois meus filmes, desde o GATO, circulam para um público mais diversificado o que acho incrível. É claro que nunca sabemos como nosso trabalho vai ser aceito, ficamos sempre na torcida. No caso de JUDAS ele foi além do que esperávamos e isso é um motivo de orgulho para todos que participaram da produção do filme, que foi totalmente independente (quando digo independente é sem nenhum investidor além de nós mesmos e sem nenhum dinheiro de editais ou lei de incentivo).

Dicas de filmes? Vejam todos os filmes do Zé do Caixão, ele deveria ser uma referência para todos que fazem e gostam de cinema de terror no Brasil!

Nenhum comentário:

Postar um comentário